domingo, 20 de março de 2011

Racismo: Vamos discutir a respeito?


Nunca fui muito encanada com a questão do Racismo, já que o tema sempre foi abertamente discutido na minha casa, desde minha infância. Porém, infelizmente, não pude deixar de passar por algumas situações desagradáveis ao longo dos meus trinta e poucos anos.

Lembro-me do meu segundo dia de trabalho como arquiteta no BankBoston, em São Paulo. Um senhor negro, que parecia muito educado aproximou-se da minha mesa e me deu parabéns. Fiquei meio sem jeito, não tinha até então entendido direito a mensagem. Ele ressaltou que fazia questão de me parabenizar, já que eu era mais uma funcionária "negra bem sucedida" e que isso era motivo de celebração à "nossa comunidade". Percebi, neste instante, que o Racismo é uma via de mão dupla: Acontece entre os "diferentes" e acontece entre os "iguais", como se eu merecesse parabéns pelo meu reconhecimento profissional apesar de ser negra.

Numa outra situação, entrei numa loja e pedi para ver uma determinada blusa, quando a vendedora me respondeu prontamente: "Esta blusa é super cara...vem cá que eu te mostro as peças em promoção". Insisti e ela me disse que a blusa provavelmente seria cara demais pro meu bolso, mas que a "aquela blusa amarelinha, da promoção" ficaria ótima pro meu tom de pele. A conversa acabou com uma reclamação formal na administração do shopping, com a gerente da loja implorando desculpas e a tal funcionária aos prantos dizendo que não poderia ter sido racista comigo, afinal "eu nem era preta, era moreninha..."

O fato é que para superarmos este tipo de situação vexaminosa muita coisa ainda precisa acontecer em temos de educação e justamente por isso aderi ao chamado da Celia Santos, do Blog Desabafo de Mãe  para escrever sobre o Racismo e compartilhar sobre o que já vivi e o que penso a respeito. Só acho que o Racismo é muito mais complexo do que uma questão de cor da pele.

Sou negra, casada com um homem branco e temos um filho lindo que é uma bela mistura de nós dois. Moramos fora do Brasil e mesmo com um presidente negro no poder as coisas por aqui não são diferentes. Na verdade, no Estado que vivemos, ao Norte dos Estados Unidos, nunca presenciei nenhuma situação de racismo, seja ela qual for. Até porque a lei por aqui não demora tanto a funcionar como no Brasil. Assim, acredito que a impunidade, além da falta de educação, contribui para que a questão seja pouco discutida e respeitada.

Sinto uma dor no peito só de pensar que meu menino possa sofrer com Racismo. Mas ao mesmo tempo penso que todo ser humano é falho e com isso desenvolvemos restrições e preferências que precisam ser direcionadas, desenvolvidas, esclarecidas, educadas.

Por diversas vezes já brinquei dizendo que agradeço a Deus pelo meu filho ter “puxado um pouco da minha cor” ou eu poderia ser facilmente confundida por ser sua babá. E isso não deixa de ser Racismo, em forma de brincadeira, confrontando com ironia o mundo aí fora, mas ainda assim Racismo.

Esta semana meu pequeno estava no corredor do nosso prédio com o pai e a filhinha da vizinha que o adora pediu para à mãe para sair e brincar com ele. Ela falou: “Ele está aqui, mãe!” E quando a mãe perguntou quem estava ali, ela respondeu: “The black boy”, ou seja, “o menino negro”…

Neste momento, meu marido e eu sentimos o peso e a inconveniência do tema Racismo e o comprometimento de como deveremos tratar do assunto com nosso filho. Uma criança de apenas 4 anos como a filha da vizinha nos fez despertar para uma situação delicada e incômoda, que está longe de ser resolvida, mas que merece atenção, dedicação, tempo, informação e muito, muito respeito. Para formarmos pessoas melhores, já que este sempre será o nosso maior dever, como pais, como cidadãos.

Um abraço,
Bia Mello

9 comentários:

  1. Olá...

    Essa questão do racismo tem mesmo que ser discutida desde cedo nas nossas casas... e só assim, cada um fazendo a sua parte, o mundo será melhor para todos.

    Deixei um selinho pra vc no meu blog.

    Bjs, Pri
    http://maesemfrescura.blogspot.com

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  2. Amiga, tô passada com tudo isso que escreveu...parece que é coisa de novela...eu ach que as pessoas precisam entender de uma vez por todas que somos todos iguais....será que isso nunca vai mudar? sempre me lembro de uma amiga negra que disse que uma vez policiais pararam o carro dela e do noivo, só pq. ele era negro e revistaram eles dois, imagine, deveria ser uma policial feminina pra revistá-la!!! Ela falou que as lagrimas escorriam, pois sabia que o policial estava fazendo propositalmente só porque eram negros. Que situação humilhante! Eu tbm detesto quando as pessoas falam piadinhas idiotas, já corto na hora...o padrinho do Rafa é negão mesmo e é a pessoa mais doce e engraçada que conheço, graças a Deus que o Rafinha vai crescer sabendo conviver com todas as cores (quando ele era menor e estava aprendendo as cores disse que o padrinho era vermelho). Nós rimos porque ele ainda era pequeno, mas jamais deixaria meu filho desfazer de um negro, até porque também não somos brancos....rsss....acho tudo isso uma besteira, pena que muitas pessoas morrem ou vivem sofrendo humilhações por conta disso...que Deus nos ajude a ter um coração sem pré-conceitos...bjs e espero que essa vizinha seja boazinha com Victor se não pego um avião e vou até aí ter uma conversinha com ela viu? bjsssssss

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  3. Bom, amiga, vc sabe que eu moro no sul do Brasil e já ouvi cada coisa mais com relaçao ao Mário. Já ouvi que ele era preto diferente, tipo limpo, arrumado, honesto, nao bate um coro, nao faz gato na net, enfim, que eu dei sorte. E eu sou camaleao, mudo de cor conforme o publico, para o sbrancos sou negra e para os negros sou branca, mas com pezinho na cozinha (odeio essa expressao). O negocio do cabelo lá no blog é resquicio de racismo tb, afinal querem arrumar o cabelo "desarrumado" da minha filha. Vou ver com calma o documentario do Chris Rock, faz temp que eu procuro, obrigada pelo link. E a vida segue né? Vamos mesmo enfrentar essa bobagens aqui ou aí, pq o ser humano é falho e sempre vai ver dieferença e a maioria sempre vai ser "melhor". Apoio total na luta contra o racismo, pelo menos que se discuta sobre o assunto com mais franqueza. bjs.

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  4. Lembrei na hora de quando a Bia nasceu e a vó do Sérgio ligou lá em Porto Alegre. A primeira coisa que ela perguntou é se a guria era preta. Na vdd, ela falou assim: que cor ela é?
    e o Sérgio disse: é branquinha, vó.
    Fiquei com raiva na hora, pq achei que não tinha nada a ver ela perguntar de cor. O que se pergunta qdo nasce um bebê?
    Mas a vó é branca, de olho claro, e até hoje não aceita a mãe preta de cabelo pixaco do Sérgio.
    Mas a minha sogra, que já sofreu muito com preconceito, não deixa de ser preconceituosa!
    Quando vê uma branca com um negão ela fala que a branca tá com negão bom, e os negão bom quem pega são as branca!
    Amiga, isso por tabela é pra mim, né?

    Essa coisa da cor tá tão enraizada na cabeça das pessoas!
    Aqui tá reprisando a novela O Clone, e a Deusa (personagem da Adriana Lessa) é mãe de um menino branco...todas as cenas as pessoas achavam que ela era a babá. E é o que acontece.
    Dia desses mostrou o caso de uma mulher, bem pobre,que teve três filhos albinos,lá no Ceará.O marido largou ela e os 5filhos e até hoje não acredita que as cças são dele. Um absurdo,né? A coitada no começo demorou pra entender que as cças eram mesmo dela.

    Tem que ser discutido sim.

    O preconceito quando não é explícito, é velado.
    E acho que o último é ainda mais difícil de se trabalhar.

    Beijos
    Pri

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  5. Bia ,
    Conheci sue blog atraves do seu comentario no maes internacionais. Achei muito bacana seu post. Parabens !
    Muitas as vezes o racismo nao eh so com a cor mas com classe social tambem, eu sou cara palida como minha filha. Por estar empurrando o carrinho da minha filha e vestida de gym com uma camiseta no Brasil, coisa q faco diariamente em Londres, uma sra me chama de babah tipo psiu psiu e quando digo q nao sou baha ela me olha e diz mas como, ta empurrando o carrinho.
    Bj Carol P
    http://motherlovedatabase.blogspot.com

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  6. Bia, seu post me fez pensar muito (obrigada!!!) espero que possamos continuar essa reflexão coletiva entre blogs além do dia 28. Segue meu feedback em um novo post. abraços e obrigada!

    http://blogdodesabafodemae.blogspot.com/2011/03/livros-e-cabelos-por-uma-infancia-sem.html

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  7. Olá Bia,
    conheci seu blog por meio desta postagem coletiva e adorei o que encontrei aqui, estou te seguindo...
    abraços

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  8. Espero que gostem da minha contribuição para a blogagem coletiva "por uma infância sem racismo".
    Meu post é menos "cult" e informativo que outros muito bons que eu li até agora.
    Sou mãe de primeira viagem de uma menininha de apenas 5 meses e sei que aprendi mais com essa discussão do que poderei ensinar.
    Mesmo assim, eu quis participar!

    http://www.roteirobabybrasilia.com/2011/03/minha-acao-por-uma-infancia-sem-racismo.html

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  9. Bia,
    Volto aqui para lhe fazer um convite já que teve a coragem de abordar sobre o tema infancia sem racismo, trata-se da nossa nova blogagem coletiva, cujo objetivo é trazer questões à tona sobre direitos da infância. Se tiver tempo e interesse, seria uma honra tê-la novamente nesta conversa. Segue link do convite: http://blogdodesabafodemae.blogspot.com/2011/06/direitos-da-infancia-o-que-sao.html

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